Moro: delação premiada quebrou tabu de confiança entre criminosos

Publicado em 30/05/2017 - 19:34 Por Silvia Caetano – Correspondente da EBC - Cascais (Portugal)

O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas ações da Operação Lava Jato na primeira instância, defendeu hoje (30) as delações premiadas e disse que os acordos permitem que as investigações avancem. “Sem a delação premiada, não teria sido possível descobrir os esquemas de corrupção no Brasil, porque ela quebrou o tabu da confiança entre os criminosos”, disse Moro durante evento em Cascais, Portugal.

Segundo Moro, nos crimes de corrupção, há corruptos e corruptores, mas, em geral, nenhuma testemunha, por isso, a importância das delações. “É muito difícil apurar. Para investigar esses crimes praticados em segredo, usamos vários meios, entres eles a delação premiada. A ideia é usar um criminoso menor para chegar ao maior para pegar os grandes”, explicou.

Juiz federal Sérgio Moro participa de evento em Portugal

Juiz federal Sérgio Moro participa de evento

em Portugal Silvia Caetano/Agência Brasil 

O juiz disse ainda que “uma das regras de ouro do processo da delação é haver provas de corroboração”, o que garante a legitimidade do instrumento.

Ao lado de juízes como o português Carlos Alexandre, o espanhol Baltasar Garzón, e o italiano Antonio Pietro – que atuou na Operação Mãos Limpas –, Moro foi veemente ao defender a Lava Jato e afirmar que “não há nenhuma vergonha” em combater a corrupção.

“A exposição e a punição da corrupção pública é uma honra, e não uma vergonha. Embora no Brasil haja algumas visões negativas sobre o processo, existe um anseio na sociedade brasileira em termos um país mais limpo”, disse o juiz brasileiro, que foi plaudido de pé e apresentado pela jornalista da televisão portuguesa SIC Clara de Sousa como “uma das pessoas mais importantes do mundo”.

Corrupção sistêmica

De acordo com Moro, as investigações e julgamentos em curso poderão fazer da corrupção sistêmica no Brasil apenas “uma lembrança”, e é preciso ter esperança na melhora do país. “Não importa se a corrupção é grande ou pequena. Ela é um mal que deve ser investigado e processado, pois pode adquirir aspecto mais grave quando se torna habitual e vira sistêmica”, acrescentou.

O juiz destacou que a corrupção causa danos à economia, eleva os custos dos serviços públicos e afasta investidores, além de ser prejudicial à democracia. “Se as pessoas acharem que a corrupção é uma coisa normal, a confiança no sistema democrático é afetada. Por isso, é preciso enfrentá-la de todas as formas”, disse Moro, que defendeu a participação da sociedade civil neste processo, ampliando as ações do Judiciário.

Edição: Luana Lourenço

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