"Querem perdoar, sem antes condenar", diz Barroso sobre atos golpistas
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Roberto Barroso, pediu uma reflexão profunda da sociedade sobre o ataque ocorrido na noite dessa quarta-feira (13) nas proximidades do STF.
A defesa institucional foi na abertura da sessão plenária do tribunal desta quinta-feira (14), mantida mesmo depois da explosão de um carro e a morte de um homem na Praça dos Três Poderes.
"Apesar de ainda estarmos no calor dos acontecimentos e no curso das apurações, nós precisamos, como país e como sociedade, fazer uma reflexão profunda sobre o que está acontecendo entre nós. Onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência."
Ao cumprimentar os agentes de segurança pela atuação correta e corajosa, Barroso afirmou que o episódio se soma ao que já vinha ocorrendo no país nos últimos anos. Sem citar nominalmente, ele mencionou um parlamentar que divulgou vídeo com discursos de ódio, ofensas e ameaças aos ministros do Supremo em fevereiro de 2021.
Falou também de um ex-parlamentar que, em outubro de 2022, desrespeitou decisão judicial e atacou policiais com fuzis e granadas. E lembrou o caso de uma deputada que perseguiu de arma em punho um homem que a tinha criticado em São Paulo na véspera do segundo turno das eleições de 2022. O presidente da corte concluiu com os acampamentos em frente a quartéis e o ataque às sedes dos três poderes em 8 de janeiro de 2023.
"Milhares de pessoas acamparam nas portas de quartéis por todo o país pedindo desrespeito ao resultado das eleições e golpe de Estado, muitos deles insuflados pela afirmação criminosamente mentirosa de que teria havido fraude nas eleições. No dia 8 de janeiro de 2023, milhares de pessoas mancomunadas via redes sociais e com a grave cumplicidade de autoridades invadiram e depredaram a sede dos três poderes da República".
Barroso pediu a responsabilização de quem atenta contra a democracia e sinalizou ser contra a anistia dos condenados de 8 de janeiro.
"Relativamente a esse último episódio, algumas pessoas foram da indignação à pena, procurando naturalizar o absurdo. Não veem que dão um incentivo para que o mesmo tipo de comportamento ocorra outras vezes. Querem perdoar, sem antes sequer condenar".
O decano da corte, ministro Gilmar Mendes, também afirmou que as explosões não se tratam de um fato isolado e que as investidas contra a democracia têm ocorrido explicitamente, à luz do dia, sem cerimônia nem pudor.